sexta-feira, 27 de abril de 2012

Marés Negras


Marés negra
 Quer pelas causas que lhes estão na origem (sejam acidentes marítimos ou derramamentos voluntários), quer pelas quantidades de petróleo derramado (por exemplo, 119 000 toneladas no Torrey-Canyon e 227 000 toneladas no Amoco-Cadiz), quer ainda pela destruição massiva de populações de aves marinhas, peixes, crustáceos e moluscos costeiros, as marés negras constituem um espectáculo perversamente mediático, deixando-nos uma impressão de quase irreversibilidade, com efeitos devastadores e persistentes difíceis de mitigar.
As 260 000 toneladas de animais mortos pelo derramamento de crude do Amoco-Cadiz serviram, sobretudo, para alertar o Ocidente para a fragilidade dos oceanos, e para a sua já escassa capacidade de regeneração. No entanto, já na década de 90, e a título de exemplo, a Guerra do Golfo deu origem a uma das maiores marés negras de sempre: cerca de 500 000 toneladas de petróleo forram derramadas nas águas do Golfo Pérsico. Longos troços da costa do Koweit ainda estão a sofrer os efeitos desta catástrofe. Em algumas áreas, o número de animais marinhos presentes passou de centenas de milhar para menos de uma centena. No deserto persistem lagos de petróleo que asfixiam toda a vegetação, insectos e pássaros, por libertação de nuvens de gases tóxicos para a atmosfera.
Os derrames petrolíferos também provocam efeitos climáticos prejudiciais. A capa oleosa, que se forma à superfície, impede as trocas de água entre o oceano e a atmosfera, causando uma diminuição na precipitação. Simultaneamente, a atmosfera fica carregada de partículas de hidrocarbonetos, agravando, globalmente, o problema das chuvas ácidas.
A recolonização lenta e progressiva do meio marinho só tem início após a dissipação da poluição, ou seja, assim que a quase totalidade do petróleo se tenha evaporado e dispersado, e que as zonas costeiras estejam limpas. O intervalo de tempo necessário à recuperação do ecossistema depende de numerosos factores e varia consoante o caso. Quando estas catástrofes ocorrem em mares regionais interiores, os efeitos nos ecossistemas são mais graves, devido à dificuldade de renovação e depuração das águas. Os fundos marinhos de alta produtividade, como o são os das zonas estuarinas e lagunares, são mais frágeis.
A "espectacularidade" destes derramamentos de petróleo bruto no mar deve-se ao facto de resultarem, essencialmente, de naufrágios de navios petroleiros, provocados por erros de navegação ou por colisões com rompimento do casco, acompanhados de incêndios. Como se pode observar pela tabela seguinte, estes contribuem numa pequena parte para a totalidade do petróleo que é derramado nos oceanos. No entanto são eles os responsáveis pelas verdadeiras marés negras, pois trata-se de lançamentos súbitos de grandes quantidades de crude, que afectam grandes áreas costeiras e de mar aberto.
Com o crescimento do comércio marítimo, estas catástrofes têm ocorrido cada vez em maior número. Já no princípio do século XX, com o início do transporte a granel de hidrocarbonetos por via marítima, verificou-se que esta prática comportava alguns riscos, não só para o ambiente, mas também para as pessoas embarcadas. No entanto, só com os primeiros grandes acidentes é que esta questão começou a merecer atenção e preocupação.
Por causa das graves consequências sobre o meio ambiente, é necessário criar novas técnicas de combate e melhorar as já existentes. Porém, nunca se consegue evitar completamente a poluição, sendo as medidas tomadas apenas com o propósito de mitigar os danos. Recolher a maior quantidade possível de material poluente derramado antes que atinja a costa costuma ser a prioridade, pois aí os ecossistemas são mais sensíveis e as consequências ecológicas e económicas podem-se agravar bastante mais.
De modo a recolher o petróleo e a estagnar a propagação da maré negra são utilizados, respectivamente, navios-aspiradores e barreiras flutuantes. Contudo, essas embarcações não são eficazes quando as manchas são muito grandes e as barreiras não são uma medida válida quando o oceano se encontra muito agitado.
Numa tentativa de estimular a degradação do crude, por vezes, aplicam-se detergentes, porém essa possibilidade é desaconselhável pois os químicos utilizados revelam-se mais tóxicos para o meio do que o petróleo. Actualmente, a engenharia genética está a tentar desenvolver uma bactéria super-predadora de hidrocarbonetos que não tenha impactos negativos nos ecossistemas. As bactérias utilizadas até agora conseguem, de facto, degradar o fuelóleo em substâncias mais simples, porém, para esse processo, consomem uma elevada quantidade de oxigénio dissolvido na água, o que aumenta o risco de ocorrerem mortes de peixes por asfixia.
OTA: Exemplo de uma medida tomada para prevenir marés negras foi a aprovação do Oil Pollution Act pelo Congresso americano, após o incidente com o Exxon Valdez, que obriga as companhias petrolíferas a elaborar planos de prevenção de derrames, assim como planos de emergência, em caso de acidente.
  
De facto, as medidas de combate deixam muito a desejar, sendo a única solução mais realista a prevenção, criando mais condições de segurança nos transportes e nas perfurações.
De modo a reduzir o risco de marés negras é indispensável a introdução de petroleiros de casco duplo, juntamente com um maior investimento na manutenção dos navios, na formação das tripulações e no melhoramento das técnicas de navegação.
Algumas nações facilitam o registo de embarcações, pois tornam-no mais barato e estabelecem leis laborais e um controlo de normas de segurança mais flexíveis. Uma forma de combater este problema é o aumento de inspecções a navios potencialmente inseguros em portos internacionais.
A restrição da navegação em zonas mais sensíveis do oceano é também outra medida preventiva para acabar com o flagelo dos mares e oceanos.

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