quarta-feira, 25 de abril de 2012

Pode uma árvore ser nociva para o ambiente?

Pode uma árvore ser nociva para o ambiente?
 
   A resposta é: Sim, pode! Veja-se o caso dos eucaliptos.
   Os eucaliptos foram trazidos da Austrália e da Tasmânia e têm tido preferência em relação às espécies nativas, já que se desenvolvem mais rapidamente e têm maior capacidade de regeneração (aspecto positivo em caso, por exemplo, de incêndio).
   De início, o objectivo de plantar eucaliptos em Portugal era drenar terrenos pantanosos, devido a certas características desta espécie, mas rapidamente se descobriu que os eucaliptos poderiam ser bastante mais lucrativos no ramo da indústria de papel, sendo plantados até em terrenos férteis, indispensáveis à actividade agrícola.
   Estes terrenos ficam rapidamente degradados, não sendo possível restaurar no local as espécies nativas. Os eucaliptos também são pobres em termos de biodiversidade, identificando-se numa floresta nativa 700 casas de aves reprodutoras/km² e na de eucaliptos apenas 100, sendo motivo o rápido crescimento das árvores para abate, que não dá tempo à instalação de uma comunidade.
   Portugal possui uma das maiores áreas florestadas da Europa (35.8 %). A nossa floresta ocupa 37.8% da área de Portugal continental, cerca de 85% da floresta de Portugal é propriedade privada, e apenas 3% pertence ao Estado Português, os restantes 12% são baldios, e de pertença a comunidades locais.
   A maior parte dos proprietários possui áreas muito pequenas, resultantes muitas vezes de partilhas entre herdeiros e não lhes dedicam grande importância. A opção acaba, na maior parte dos casos, por ser a plantação de eucaliptos que não exige qualquer trabalho da sua parte e dá um rendimento de 10 em 10 anos. Para ter termos de comparação (valores médios), um pinheiro bravo é cortado ao fim de 55 anos, um sobreiro dá cortiça vendível ao fim de 60 anos e um carvalho é cortado ao fim de 120 anos.
   Segundo os dados da Direcção-Geral de Florestas, a área ocupada por eucaliptos é de 676500 hectares. Tal representa 7.6% do território nacional continental. As quatro principais espécies florestais são o pinheiro bravo (ocupa 29% da nossa área florestal), o sobreiro (22%), o eucalipto (21%) e a azinheira (15%).
   Quando plantamos eucaliptos numa determinada área, estamos a "simplificar" o ecossistema, ou seja, diminuímos o número de espécies (fauna e flora) que dele fazem parte, bem como o número de interacções que se estabelecem entre elas. Ainda que isso nem sempre tenha de suceder, esta diminuição de complexidade do ecossistema leva normalmente à diminuição da sua resistência (capacidade de manutenção do estado actual) e resiliência (capacidade de retomar o estado original após ter sofrido alterações).
   Trabalhos científicos já publicados indicam uma diminuição no número de espécies de fauna e flora, tanto acima como abaixo da superfície do solo. A plantação de eucaliptos ou qualquer outra espécie, realizada nos moldes actuais, deixa sempre o solo muito susceptível à erosão durante pelo menos o primeiro ano. Na maior parte dos casos, alternativas menos "danosas", são financeiramente incomportáveis.
   O eucalipto é uma árvore extremamente produtiva e com um crescimento muito rápido. Qualquer árvore, consome, numa fase inicial do seu período de vida determinadas quantidades de nutrientes do solo, a partir de certa altura estes começam a ser devolvidos "à terra" através da queda das folhas, ramos, casca - o denominado ciclo de nutrientes. De uma forma bastante simplificada poderemos dizer que o eucalipto começa a realizar esta "devolução" aproximadamente aos 10-12 anos, exactamente na altura em que é cortado. Sendo assim, ele não tem oportunidade de devolver ao solo o que dele retirou. Este impacto é menor quando se deixam os ramos e folhas no solo, no momento do corte das árvores. Por outro lado, tal pode igualmente trazer complicações devido ao perigo dos fogos.
   O eucalipto é uma árvore que necessita de uma grande quantidade de água e minerais (por causa do seu rápido desenvolvimento) o que, se existirem muitos eucaliptos, leva à secagem do solo e, com isto, estas árvores podem nem sequer sobreviver. Mesmo após a desaparecimento dos eucaliptos, não se poderá plantar mais nada durante muito tempo, pois o solo torna-se infértil devido à falta de água e minerais, o que pode levar à desertificação e também à morte de animais.
   Se por acaso os eucaliptos não perecerem, pode ser ainda pior, pois isso quererá dizer que eles arranjaram forma de sobreviver tirando água e minerais de outras áreas mais distantes, o que as vai tornar também a elas inférteis e incapazes de suportar quaisquer plantas, o que pode também tornar estas áreas desertas. A plantação de eucaliptos é, sem dúvida, uma das principais causas de desertificação.
   Em 20/03/2009, o Jornal Público publicitou a seguinte notícia: “O Ministério do Ambiente quis classificar o eucalipto como espécie invasora - O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) preparou uma proposta para classificar o eucalipto, que hoje ocupa mais de um quarto da floresta portuguesa, como espécie invasora” – devendo explicitar-se aqui que, a introdução de espécies invasoras provoca não só a destruição dos habitats das espécies nativas, mas também a transmissão de doenças e a perda da variabilidade genética No entanto, a proposta acabou por ser abandonada sem que fossem revelados os motivos.
   O forte crescimento da área florestada com eucalipto, não se deveu apenas às suas características fisiológicas fora do comum, mas também, à explosão no mercado do papel ocorrida nos anos 70. Tal levou a que se os plantassem em locais para onde nunca deveriam ter ido, representando tal, uma opção pouco feliz e rentável do ponto de vista económico, e claro está, do ponto de vista ecológico.

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