segunda-feira, 21 de maio de 2012

A Refinaria de Badajoz


A Refinaria de Badajoz

Há semanas vi uma notícia que destacava o contentamento do presidente da associação ambientalista Quercus, Nuno Sequeira, no que respeitava ao chumbo da proposta de construção da Refinaria de Balboa, perto de Badajoz e a cerca de 100 km da fronteira com Portugal. Visto que do ponto de vista ambiental, assim como do ponto de vista económico-social, esta construção poderia ser bastante prejudicial, a Quercus mostrou-se bastante satisfeita com o parecer negativo conferido pelo ministério do ambiente espanhol. Claro que isto acontece porque aquela infra-estrutura poderia trazer graves consequências também para Portugal.
Em primeiro lugar: o que é uma refinaria? Quando o petróleo é extraído do subsolo terrestre, este não pode ser logo comercializado. Antes disso, terá de passar por um processo de “limpeza”, que consiste num processo químico onde são refinadas algumas propriedades daquele combustível fóssil e onde são removidas as impurezas. Os resultados desta filtragem e limpeza do petróleo podem ser depois usados para os mais diversos fins. É a partir daqui que vamos ter o diesel ou a gasolina.
Assim que surgiu a notícia acerca da proposta de construção daquela refinaria na região da Extremadura espanhola, começaram-se a ouvir os grupos activistas que se mostravam contra aquela infraestrutura. Um desses grupos, a espanhola GAIA, invocava os seguintes efeitos prejudiciais para combater esta construção: as emissões poluentes e consequentes efeitos na saúde da população; a destruição do património agrícola; e as ameaças da contaminação das águas, em especial do rio Guadiana. Alegavam ainda que este tipo de indústria já se revela antiquada, poluente e insustentável, além de que a Extremadura possui tanto potencial no que toca às energias renováveis, como a energia solar ou eólica.
            O GAIA fez de tudo para travar o processo de aprovação do projecto da refinaria, incluindo vários estudos sobre o assunto. Desses tiraram-se, essencialmente, as seguintes conclusões:

" 1) Para transportar o petróleo até à Extremadura é preciso construir um oleoduto desde Huelva que vai atravessar importantes zonas naturais como Doñana, os sapais dos rios Odiel e Tinto, as Serras de Aracena e os Picos de Aroche, inúmeras ZEPA’s, IBA’s e LIC’s nas regiões da Andaluzia e Extremadura.
2) Para descarregar o petróleo (transportado por cerca de 80 petroleiros por ano), têm de instalar uma bóia flutuante em frente a Palos de la Frontera (Huelva), atravessando locais de interesse arqueológico submarino e terrestre. Há portanto previsões de marés negras por derrames acidentais ou da lavagem dos contentores de carga.
3) A refinaria será instalada no centro de uma área essencialmente agrícola, de videira e oliveira, com as consequências negativas que isto terá para as terras de cultivo e para a imagem de mercado dos produtos agrícolas produzidos nesta área. A nossa previsão é que isto vai destruir tanto emprego como aquele que se pretende criar com a refinaria.
4) As emissões de gases de efeito estufa (1,7.106 T) contribuem para o aquecimento global e as mudanças do clima. As quantidades que serão emitidas não cumprem o compromisso de Quioto assinado por Espanha.
5) Em Extremadura não há nenhum local oficial de depósito de resíduos tóxicos e perigosos.
6) A saúde dos cidadãos dos arredores da refinaria será afectada negativamente. Como exemplos conhecidos das doenças associadas à presença de indústrias petroquímicas temos doenças de pele, respiratórias, cardiovasculares, incremento das alergias e do risco de cancro, etc.
7) As emissões gasosas de óxidos de enxofre e azoto, assim como de hidrocarbonetos gasosos, e os contaminantes secundários produzidos, podem gerar chuvas ácidas e aumento do ozono troposférico num raio de 70 km, portanto afectando também Portugal.
8) Temos a certeza que a instalação da refinaria pode afectar a qualidade e quantidade de água do Guadiana que chega a Portugal. Os derrames da refinaria no rio Guadajira vão também para o rio Guadiana e, portanto, ficarão retidos na barragem do Alqueva. A empresa promotora da refinaria solicitou a concessão de 122l/s de água para a refinaria (o que supoe 4 Hm3/ano) procedentes da barragem de Alange, no rio Matachel, afluente do Guadiana. A barragem de Alange tem uma capacidade de 852 Hm3, embora na actualidade só está com 38,7% da sua capacidade máxima (330 Hm3). A água desta barragem é usada para o abastecimento das povoações (9 Hm3/ano) e para a rega de cultivos (80 Hm3/ano). Porém, esta barragem serve também para garantir o caudal ecológico do rio Guadiana. Se se aprovar a concessão de água para a refinaria e os 4 projectos de centrais térmicas de ciclo combinado associadas a esta, a barragem não teria capacidade para garantir as actuais utilizações da água. Portanto, não se poderia garantir o caudal mínimo do rio Guadiana que está estabelecido nos compromissos entre Espanha e Portugal. Também há que salientar que na actual situação de mudanças climáticas está prevista uma reduçao de 20-45% da chuva na bacia hidrográfica do Guadiana, situação que torna ainda mais improvável cumprir estes compromissos com Portugal. Também há que salientar que a petição da água por parte da refinaria também prevê a ampliação das instalações e o aumento de uso de água até 6 Hm3/ano.
Além de tudo isto, os derrames líquidos das refinarias, mesmo após o tratamento, levam muitas substâncias contaminantes (vestígios de hidrocarbonetos de emulsão do petróleo com água, DQO, DBO, sólidos em suspensão, fenóis, amoníaco, compostos de enxofre, metais pesados como vanádio, crómio, chumbo) e podem alterar o pH e outras propriedades físico-químicas da água. Esta situação torna-se ainda mais complicada porque se quer usar petróleo da Venezuela, um dos de maior conteúdo em enxofre e metais pesados. Tudo isto seria derramado no rio Guadajira, afluente do Guadiana, em quantidades de 2 Hm3 /ano que iriam engrossar a poluição já existente deste rio devida às águas de centros urbanos e industriais, nomeadamente de Zafra, Almendralejo, Don Benito, Villanueva de la Serena, Montijo, Mérida e Badajoz. O resultado seria um rio de águas extremamente poluídas que iriam drenar na barragem do Alqueva, cuja situação actual de poluição é já preocupante para os interesses ambientais e turísticos da região.”
           
       É interessante ver como este grupo pró-ambiente conseguiu defender os seus interesses no caso da refinaria de Badajoz. Por todos estes argumentos contra, quase que se torna uma mera formalidade pensar nos prós da situação em causa. As energias renováveis estão aí para serem exploradas e para vingar. Urge procurar a maior eficiência e produtividade destas energias, para fazer face aos inúmeros inconvenientes para o ambiente e saúde pública que nos oferecem as grandes indústrias, como esta que nos é apresentada. 

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